CRISE ECONÔMICA, PANDEMIA E AÇÕES DO GOVERNO AMPLIAM DESEMPREGO, POBREZA, DESIGUALDADE.

⬆️ Aumenta número de pessoas na extrema pobreza e o de super-ricos

⬇️ Diminui quantidade de ocupados com menor escolaridade

📈 Inflação avança e atinge mais pessoas de renda menor

DESIGUALDADES SOCIAIS E ECONÔMICAS SE APROFUNDAM

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados em junho mostram que a economia retomou o baixo ritmo de crescimento que vinha de antes da pandemia. O PIB, no primeiro trimestre de 2021, cresceu apenas 1,2% em relação ao mesmo período de 2020, voltando ao mesmo patamar do final de 2019. O crescimento restrito tem sido heterogêneo, resultado de uma política econômica omissa na redução das desigualdades sociais e regionais e de um processo extremamente lento de vacinação contra a Covid-19, que, entre outras consequências, provocou milhares de mortes que poderiam ser evitadas. Como se não bastasse, há graves denúncias sobre as ações do Ministério da Saúde em relação aos procedimentos para o enfrentamento da pandemia, envolvendo suspeitas de corrupção. Além disso, algumas ações do governo federal – como a tentativa de privatização da Eletrobras e dos Correios e as propostas de reforma tributária e reforma administrativa – sugerem que o caminho de lenta recuperação, que tem sido desigual, não será para todos.

AUMENTA O NÚMERO DE PESSOAS NA EXTREMA POBREZA E O DE SUPER-RICOS

A pandemia aprofundou a desigualdade social, aumentando o número de pessoas em situação de extrema pobreza, segundo dados do Cadastro Único para programas sociais (CadÚnico). Em março de 2020, início da pandemia no Brasil, havia cerca de 13,5 milhões de pessoas nessa condição, contingente que, em março deste ano, havia aumentado em 784 mil pessoas, o que representa um crescimento de 5,8%. Destaca-se, ainda, que o número de pessoas na extrema pobreza já havia aumentado entre 2019 e 2020, portanto antes da pandemia, em 3,0%. Isto é, entre o início de 2019 e o início de 2021, quase 1,2 milhão de pessoas ingressaram na extrema pobreza no Brasil, o que corresponde a um aumentou de 9,0%. BOLETIM DE CONJUNTURA – número 29 – junho/julho de 2021 Em diversos estados do Nordeste, o número de pessoas na extrema pobreza, em março de 2021, ultrapassou 12% da população local, chegando a quase 15% no Piauí e a mais de 13% na Paraíba. Já no Sul, esse percentual era próximo de 3% no Paraná e de menos de 2% em Santa Catarina. Vale destacar que muitas pessoas na situação de pobreza extrema sequer fazem parte do Cadastro Único, simplesmente por não terem acesso à rede de proteção social, como é o caso de muitos moradores de rua. Segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (REDE PENSSAN, 2021), realizada no final de 2020, cerca de 116,8 milhões de pessoas “conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros(as) enfrentavam a fome”. Adiciona-se que 67,3% das famílias brasileiras tinham algum endividamento em abril deste ano, maior percentual da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEICCNC). Por outro lado, o número de bilionários brasileiros aumentou durante a pandemia. Segundo a revista Forbes (DOLAN, 2021), 22 brasileiros entraram ou retornaram à lista de pessoas com pelo menos 1 bilhão de dólares em patrimônio, em 2021. No total, são 65 brasileiros na lista e 2.755 em todo o mundo (660 a mais que no início de 2020). A desigualdade social, histórica e estrutural tem se aprofundado nos últimos anos e medidas paliativas e desumanas – como a sugerida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de alimentar os pobres com sobras de comida de restaurantes (CRUZ, 2021) – não vão à raiz do problema. É necessária e urgente a tributação incisiva sobre os mais ricos, com melhor distribuição de renda e riqueza, por exemplo, além de um conjunto de medidas que poderiam ser adotadas, como o resgate da política de ganhos reais para o Salário Mínimo.

DIMINUI O NÚMERO DE OCUPADOS/AS DE MENOR ESCOLARIDADE E AUMENTA O DAQUELES COM ENSINO SUPERIOR COMPLETO

A pandemia, que implica necessárias medidas de isolamento e restrições de atividades, reduziu intensamente a ocupação no Brasil. Sem proteção social ou trabalhista, muitos/as trabalhadores/as perderam seus postos de trabalho e ainda não conseguiram retomar suas atividades. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas ocupadas teve queda de 7,1%, equivalente a menos 6,6 milhões, entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro de BOLETIM DE CONJUNTURA – número 29 – junho/julho de 2021 2021. Contudo, percebe-se que o número de ocupados/as com ensino superior aumentou 4,8% (mais 966 mil pessoas), enquanto o daqueles com menor escolaridade diminuiu 10,4% (menos 7,5 milhões de pessoas). Entre aqueles com ensino superior completo, houve crescimento de 4,0% em ocupações que, na maioria, eram compatíveis com seu grau de escolaridade. Nota-se, porém, um aumento de 6,0% no número desses profissionais em ocupações em que o ensino médio completo já seria suficiente, o que indica que o diploma de ensino superior amplia a possibilidade de se conseguir trabalho, mas não necessariamente em ocupações que o exigem. A maioria da população ocupada, contudo, consiste de pessoas com até o ensino médio completo, que, conforme se tem observado, têm sido substituídas por mão de obra mais qualificada, com salários rebaixados.

INFLAÇÃO MAIOR PARA AS PESSOAS DE RENDAS MAIS BAIXAS

Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea (LAMEIRAS, 2021), a inflação tem atingido com mais intensidade as famílias de rendas baixas, entre as quais os itens básicos de consumo têm maior peso no orçamento. No acumulado de 12 meses até maio de 2021, a alta de preços para as famílias com rendas muito baixas foi de 8,9%, para as com rendas baixas foi de 8,7% e para aquelas com rendas altas foi de 6,3%. O preço da cesta básica de alimentos aumentou consideravelmente em todas as capitais onde é pesquisado pelo DIEESE. No acumulado dos 12 meses encerrados em junho de 2021, esse aumento correspondeu, em Brasília, a 29,9%; em Porto Alegre, a 25,3%; e, em Florianópolis, a 24,8%. Em Porto Alegre e Florianópolis, o custo da cesta básica já passa dos R$ 642 e, em Salvador, onde foi apurado o menor valor, atingiu R$ 467. A dificuldade que se tem enfrentado nas negociações coletivas de trabalho para a reposição da inflação nos salários dos/as trabalhadores/as com carteira assinada também leva à perda do poder de compra e ao empobrecimento da classe trabalhadora. Nas negociações realizadas até maio deste ano, 58% não obtiveram reajustes capazes de corrigir o valor dos salários; 28% fixaram percentuais equivalentes à inflação; e apenas 14% conquistaram ganhos reais. Na regiões Centro-Oeste e Sudeste, foi registrada a maior proporção de reajustes inferiores à inflação. Uma das razões fundamentais para as crescentes dificuldades dos sindicatos reporem a inflação na negociação é o patamar inflacionário. Estudo recente do DIEESE mostra que, há um ano, o reajuste necessário para repor as perdas salariais segundo INPC- BOLETIM DE CONJUNTURA – número 29 – junho/julho de 2021 IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) era de 2%. Agora, em junho de 2021, esse reajuste deveria ser de aproximadamente 9%.

https://www.dieese.org.br/boletimdeconjuntura/2021/boletimconjuntura29.pdf